Cuca marca sua estreia no Athletico com uma goleada espetacular de 6 a 0 contra o Londrina, nas quartas de final do Campeonato Paranaense. Logo após o jogo, na Ligga Arena, o técnico enfrentou a imprensa, tocando num assunto delicado e pessoal pela primeira vez. Ele discutiu a condenação por ato sexual com menor e coação, um capítulo de sua vida que o Tribunal Regional de Berna-Mittelland, na Suíça, anulou no início deste ano.
Cuca se pronuncia sobre o caso de Berna
Neste momento importante, Cuca não escondeu seu nervosismo. Isso porque, ele revelou ter escrito suas palavras com a ajuda de sua esposa e filhas, enfatizando a seriedade do tema. O treinador refletiu sobre os desafios que enfrentou nos últimos meses, incluindo sua saída do Corinthians, e como buscou entender melhor seu papel nesta questão complexa.
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Assim, Cuca expressou um compromisso com a mudança, destacando a importância de escutar e aprender mais sobre as questões de gênero e violência contra as mulheres. Ele reconheceu que, apesar de poder seguir sua vida após a decisão judicial, muitas mulheres afetadas por violência carregam as cicatrizes permanentemente.
Além disso, o treinador falou sobre a necessidade de uma transformação social que torne o mundo um lugar mais seguro para as mulheres. Principalmente, admitindo que o mundo do futebol ainda contém preconceitos. Dessa forma, Cuca comprometeu-se a usar sua voz e posição para promover a educação e sensibilização, especialmente entre os jovens jogadores, sobre o respeito e a igualdade.
O técnico enfatizou que suas futuras ações visarão contribuir para essa transformação, prometendo que suas iniciativas serão por atitudes concretas, não apenas palavras. Cuca encerrou seu pronunciamento com um agradecimento pela oportunidade de poder falar, reiterando seu compromisso em ser parte da solução para um problema tão grave.
Confira abaixo a declaração completa do técnico Cuca:
“Confesso para vocês que estou nervoso. É um tema muito sério, muito importante.
Escrevi para não correr o risco de errar, porque não sou bom com palavras, sou muito “boleirão”. Queria falar sobre os últimos meses que eu tenho vivido. Há quase um ano eu sai do Corinthians e vocês podem imaginar o que estou passando e o quanto estou refletindo. Antes de falar, precisei escutar minha esposa, minhas filhas. Escrevi esse texto com a ajuda delas. Porque ainda não me sinto com conhecimento suficiente para falar sobre algo tão forte. Por elas e por todas eu escrevi e não quero errar.
Sobre a opinião de Milly Lacombe
Tenho escutado as opiniões e tentado entender o meu papel. No começo do ano li uma coluna da Milly Lacombe, da UOL, em que ela disse que isso não era sobre mim. Eu entendi o que ela quis dizer. Não é SÓ sobre mim, mas é sobre mim também. Eu escolhi me recolher durante muito tempo, mas consegui seguir a minha vida, enquanto uma mulher que passa por qualquer tipo de violência não consegue seguir a vida dela sem permanecer machucada, carrega o impacto para sempre. Eu consegui seguir minha vida. O mundo do futebol e o mundo dos homens nunca tinha me cobrado nada, mas o mundo está mudando e eu acho que é para melhor.
Não adianta eu ser um grande treinador, esposo, pai, avô, irmão, se eu não entender que o mundo é mais do que o futebol e que eu faço parte dessas coisas. Eu enxergava os problemas, mas me calei porque a sociedade permitia que eu, como homem, me calasse. Hoje entendo que o silêncio soa como covardia. Tenho buscado ouvir mais, entender mais, aprender mais.
Não posso mudar o passado. Muitos homens agora me escutam e são capazes de olhar para o passado para rever suas atitudes. Sabemos que o mundo é um lugar diferente para os homens e mulheres, e quando enxergamos isso podemos até resistir, mas as coisas começam a mudar. Só que mudanças honestas e verdadeiras levam tempo, exigem dedicação, estudo, são dolorosas e desafiadoras.
A realidade tem que ser transformada para que o mundo seja um lugar mais seguro para as mulheres. O mundo do futebol ainda é um mundo de muito preconceito. Entendi que quando me cobram não é só sobre mim, é sobre a forma como tratamos as mulheres. Não estou falando isso como fala isolada para agradar alguém, ou da boca para fora. Se fosse assim teria me manifestado antes. Falo isso de coração.
Treinador faz promessa por mudança e transformação
Quero e me comprometo a fazer parte da transformação. Vou fazer isso com o poder da educação. Quero ajudar. Quero jogar luz, usar a voz que tenho para, ao mesmo tempo que me educo, educar também outros homens, principalmente os jovens que amam futebol. Sucesso repentino é desafio. Muitos se perdem pelo caminho com fama e dinheiro. Somos levados a acreditar que podemos tudo, inclusive desrespeitar as mulheres. Precisamos dar aos mais novos a oportunidade de não errarem como tantos de nós erramos. É ali que podemos sensibilizar, colocar para pensar, orientar. Sucesso, dinheiro e fama não servem para nada se você se perder no caminho.
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Eu pensei que eu estava livre da minha angústia quando solucionei meu problema com a anulação do processo e a indenização. Mas entendi que não acabou porque não dependia apenas da decisão judicial, mas que eu precisava entender o que a sociedade esperava de mim. O que vocês vão ver de mim daqui para frente não serão palavras, serão atitudes. Mas obrigada por me ouvirem hoje.”